Sustentabilidade Familiar: Para onde queremos ir?

Facebook
WhatsApp
Twitter
LinkedIn
Telegram
Email

Lewis Carroll, em seu famoso livro Alice no País das Maravilhas, criou uma frase que ficou célebre ao ser dita pelo Gato Cheshire à Alice: “Se você não sabe para onde ir, qualquer caminho serve”. Infelizmente, grande parte das famílias de hoje estão na situação da Alice, não sabem para onde ir e com isso, acabam escolhendo caminhos que, muitas vezes, não levam a lugar nenhum. Essa realidade não é apenas triste e terrível por suas consequências no nível das famílias e de seus membros, mas, se pensarmos mais longe, é extremamente séria quando olhado o conjunto de todas elas, pois afetam a sociedade como um todo e, por extensão o planeta inteiro…

O projeto da FASUS para melhorar a qualidade de vida das famílias de modo sustentável se baseia em um modelo que relaciona as melhorias a mudanças no nível de maturidade que essas famílias tenham. Chamamos esse modelo de GPM®, sigla para Governança, Performance e Maturidade, criado por nós após muitos anos de estudo, observações e pesquisa. Os detalhes sobre os conceitos serão colocados em uma area específica na página da FASUS em breve, mas queremos adiantar a conversa e usar o modelo para falar sobre um assunto importante: o dia a dia de nossa casa.

Vamos começar a conversa sobre Governança, a primeira palavra do modelo GPM®.

Treinando arco e flecha

O significado mais simples da palavra governança, segundo o dicionário, é “ato de governar(-se); governo, governação”. Daí, ela se aplica inicialmente a governos, quando se trata de dirigir a sociedade visando objetivos coletivos. Mais recentemente, passou a fazer parte do vocabulário empresarial e ganhou mais destaque com a introdução do conceito de ESG, no qual o G é justamente de governança. Nesse caso, é conhecida como governança corporativa, uma filosofia empresarial pela qual as empresas são dirigidas, monitoradas e incentivadas a agir de forma ética e transparente para atingirem objetivos ambientais, sociais e econômicos sustentáveis.

No fundo, governança está ligada à noção de liderança pois busca resposta a perguntas tais como: o que fazer, o que ser, onde ir, e por isso, pode se aplicar a quaisquer grupos de pessoas que se relacionam entre si, visando direciona-las a conseguirem atingir objetivos comuns. Para nós, interessa muito entender o que compõe a governança familiar para aplicar o conceito às famílias, de modo a guiá-las para que consigam o objetivo de melhorar suas vidas de modo consistente e sustentável.

Vamos usar o modelo GPM® para tratar de governança familiar. Segundo o modelo, governança envolve dois aspectos: (1) Valoração = fazer as coisas “certas”, o que pressupõe determinar o que achamos ser a melhor opção, e (2) Organização = fazer “certo” as coisas, o que pressupõe ter a capacidade de nos sistematizarmos para conseguirmos o que achamos ser a melhor opção.

Falando de outra maneira, imagine um arqueiro (ou arqueira, se preferir) treinando tiro ao alvo. O alvo é dividido em círculos concêntricos, cada um com um valor específico, sendo o pequeno círculo central o de maior valor. Assim, Valoração está ligado ao alvo: é melhor acertar no centro dele do que nas laterais.

No entanto, porque quer acertar no centro do alvo o maior número possível de vezes, o arqueiro(a) precisa praticar para conseguir fazer isso. Em outras palavras, ele(a) precisa entender o que é necessário fazer e seguir um processo (como e quanto puxar a corda para a flecha atingir o alvo, como compensar o vento, etc.) que leve a flecha a atingir o alvo. Assim, Organização está ligado ao arqueiro(a), é preciso ter a capacidade de criar as condições e de seguir os processos para atingir o alvo.

Resta agora saber o que compõe cada aspecto.

Valores e Regras

A Valoração abrange aquilo que nos leva a seguir algum caminho na vida. Estão incluídos aí nossos valores, crenças, hábitos, conhecimentos e necessidades/interesses, cada um com suas características e importância.

Nossos valores são princípios fundamentais que guiam nossas vidas no nível mais alto, ditando o nosso comportamento e nossas ações em todas as áreas da nossa vida. Eles influenciam de modo profundo como nós nos relacionamos com nossos familiares, amigos, colegas de trabalho e com as pessoas que nos são totalmente estranhas, e também como escolhemos aquilo que queremos ser e fazer na vida. Eles são conectados com nossos sentimentos mais profundos, sobre o que para nós é importante e o que não é, sobre o que é certo e o que não é. São formados ainda na infância, durante a educação elementar nos primeiros anos de vida e compreendem temas como honestidade, trabalho duro, justiça e liberdade, e são o primeiro e mais importante filtro, ou lente, pelo qual enxergamos a vida e damos sentido ao que vemos.

Nossas crenças são aquelas noções que acreditamos serem verdadeiras sobre nós mesmos, sobre outras pessoas e sobre o mundo em geral. Tal como nossos valores, nossas crenças também influenciam como encaramos a vida, fazemos nossas escolhas e agimos, mas diferentemente dos valores, elas são muito influenciadas pela cultura e experiências adquiridas ao longo da vida, por emoções que temos sobre o que pode dar certo ou errado, e por isso, podem ser muito particulares para cada indivíduo. Por exemplo, você pode acreditar que determinadas escolhas são boas ou más porque quando fez algo foi punido ou então premiado, enquanto outra pessoa ao passar por situação semelhante teve a experiência exatamente oposta…

Os valores são essenciais para guiar e regular o comportamento humano, enquanto as crenças influenciam nossas opiniões e escolhas individuais.

Por sua vez, hábitos são as nossas atividades rotineiras que não necessitam de muito pensamento ou esforço para realizarmos. Vão desde escovar os dentes, escolher roupas adequadas para trabalhar até escolher uma comida para o jantar. Os hábitos também dizem muito sobre quem somos e como vivemos, mas são muito mais transitórios porque podem mudar de uma hora para outra, bastando por exemplo, que tenhamos um novo membro na família, tenhamos mudado de trabalho ou de casa. Hábitos, portanto podem ser mudados com mais facilidade, ao alterarmos coisas rotineiras. Hábitos também fazem parte do aspecto da Organização, como trataremos daqui a pouco.

Os conhecimentos que temos são resultado de processos de aprendizado mais complexos, que resultam em entendimento mais profundo, e normalmente lógico, de alguma coisa ou situação. Estamos falando de tudo aquilo que vamos estudando ao longo da vida. Vamos ver a vida e reagir a ela diferentemente se formos médicos ou engenheiros, por exemplo. Tal qual os hábitos, conhecimentos também fazem parte do aspecto da Organização, como trataremos daqui a pouco.

Ao adicionarmos agora as necessidades, demandas ou interesses que tivermos em um determinado momento, criamos o contexto sobre o qual nossas relações com outras pessoas se estabelecem e sobre o qual acabamos agindo, no curto, médio e longo prazos.

Como fazemos as coisas acontecerem na vida

Uma vez escolhido o caminho, partimos para a execução. A Organização entra em campo nesse momento, para criar as condições para que as coisas aconteçam do modo mais eficiente (fazer mais com menos esforço) possível.

A palavra organização é muito usada para descrever coisas bem semelhantes, mas o uso que damos à ela é um pouco diferente. No sentido mais amplo, uma organização pode ser uma entidade que se estruturou para uma determinada função ou atividade; no ambiente acadêmico também pode significar um conjunto de regras, ou, no caso de uma pessoa, por exemplo, alguém que é estruturado, focado, que mantém suas coisas sempre nos seus lugares.

No nosso caso do modelo GPM®, dissemos que Organização é “fazer certo as coisas”, ou seja ter a capacidade de administrar/gerenciar as diferentes atividades necessárias para nos prepararmos para conseguirmos atingir objetivos estabelecidos (capacidade de planejamento), executarmos as ações necessárias da melhor maneira possível (capacidade de execução) e, por último, aprendermos com nossos erros e acertos para atingirmos novos objetivos (capacidade de aprendizado). Assim sendo, ela está ligada a características como ordenamento, disciplina, precisão, clareza, controle, limpeza, repetitividade. Em conjunto, pode-se dizer que Organização está ligada à sistematização de como planejamos, executamos e aprendemos com o que fizemos. Organização pressupõe ter um sistema de gestão para administrar o que vai ser feito.

Como está a governança da sua família?

Um grande número de famílias se comporta muito como a Alice no País das Maravilhas. Vivem em um mundo realmente maravilhoso, mas o nível da governança que cada uma tem sobre sua vida dificulta que consigam vivê-la com a qualidade que gostariam de ter. Como resultado vemos dor, infelicidade, insegurança, frustração, desânimo, ou coisas piores…

Existe uma enorme indústria dedicada a ajudar indivíduos e famílias a resolverem seus problemas causados pela falta de governança, usando modelos e ferramentas de todo o tipo. A eficácia da ajuda depende da técnica que usam, mas depende muito mais do interesse e comprometimento das famílias com a melhoria de suas vidas.

Criamos a FASUS porque queremos ajudar famílias a conseguirem compreender melhor o que fazer para assumirem o controle de suas vidas e a conseguirem melhorá-las de forma sustentável. Sem esse controle, é impossível conseguirem atingir o objetivo, a não ser contando com a sorte. Nossa ferramenta para ajudá-las chama-se Projeto de Melhoria Familiar®, um processo estruturado que se propõe a tornar todas as famílias campeãs em arco e flecha. Estamos trabalhando forte para trazer em breve essa ferramenta para benefício das famílias e do planeta.

O Autor

Marcelo Kós Silveira Campos

É um profissional com mais de 30 anos de experiência em temas ligados à sustentabilidade, dos quais mais de 20 trabalhando com a indústria química. Atuou no desenvolvimento de normas, sistemas e iniciativas para a gestão de saúde, segurança, meio ambiente, responsabilidade social e comunicação em empresas e organizações brasileiras e internacionais.

É engenheiro químico pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e mestrando em Desenvolvimento Sustentável na Universidade de Utrecht, na Holanda.

É o CEO da FASUS.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

vinte + oito =