Sustentabilidade Familiar: A Inteligência Artificial e o futuro da família

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As coisas estão evoluindo muito rápido, nem é preciso dizer. Todos, mesmo os mais novos, estão percebendo que aquilo que era novidade ontem deixou de ser hoje e ficam esperando para ver o novo que o amanhã trará. Como dizia Cazuza, dá para encher Museus de Grandes Novidades! Essa situação de mudança rápida e permanente traz coisas boas e, ao mesmo tempo, perplexidades e coisas não tão boas…

A bola da vez é, sem medo de errar, o que passamos a chamar de inteligência artificial (IA). Tal como em muitas das novidades anteriores, sua chegada aconteceu de repente, pelo menos aparentemente para a maioria de nós que não estávamos acompanhando o assunto, e nos pegou meio que de surpresa. Agora temos que nos informar rápido sobre essa última novidade e encontrar um ponto de equilíbrio de sua influência em nossa vida e de nossa família. À primeira vista, o assunto parece ser bastante complexo e complicado, tem muita gente usando e tentando ganhar dinheiro com ela pela oportunidades que estão aparecendo, enquanto outros estão perdendo o espaço e o trabalho por causa da IA.

Então, você já parou para pensar qual será a influência da IA na vida de sua família, como ela pode interferir no futuro de curto e longo prazos, e, ultimamente, na qualidade de vida que vocês almejam ter?

A Revolução Digital

O termo revolução digital não é original, tantos já usaram em tantas ocasiões, mas é verdade que as tecnologias digitais, em especial, são responsáveis pela maior parte das novidades que estão à nossa volta e elas foram realmente revolucionárias. A IA é a última geração das tecnologias digitais que passaram a ser fundamentais e sem as quais passou a ficar difícil viver. Há apenas 25 anos atrás, a internet decolava e trazia com ela as redes sociais, o smartphone e o boom da informação instantânea. Hoje estamos de frente com uma nova era, a da inteligência artificial, que deve trazer mudanças ainda mais profundas na sociedade o que, em outras palavras, quer dizer mudanças ainda mais profundas nas nossas vidas e nas das nossas famílias. Olhando para trás, percebo a pequena consciência que existia frente ao potencial de ruptura que a internet traria com as maneiras de fazer quase todas as coisas, e o quanto estávamos despreparados para lidar com ela.

É impossível não enaltecer o enorme aumento na produtividade e na geração e distribuição do conhecimento que a internet propiciou, o quanto ela encurtou distâncias e permitiu mantermos contato a qualquer momento com pessoas longe de nós, em tempo real. A internet aproximou as pessoas que estavam longe e isoladas. Permitiu criar enormes comunidades de gente com interesses e visões de mundo semelhantes e a troca instantânea de informações entre elas.

Mas é fato que também afastou as pessoas próximas e isolou muitos em seu mundo à parte, individual. É comum se ouvir dizer que a internet aproxima quem está longe e afasta quem está perto…

Não estávamos preparados para essa situação, que afetou enormemente as relações interpessoais e a maneira pela qual passamos a buscar informações e a entender as coisas à nossa volta. Com a internet, a educação adquiriu nova característica, com a total descentralização do conhecimento, e com ela, veio a mudança nos padrões e práticas de ensino, que passaram a ser mais diversos e ao mesmo tempo mais individualizados e tailor made para cada usuário. Como sempre acontece, existem as vantagens e desvantagens de mudanças e com essa não é diferente.

Hoje as pessoas, e os jovens em particular, têm muito mais acesso às informações e ao conhecimento que lhes interessam, o que é uma vantagem nunca antes vista. Mas, a quantidade de informações e a diversidade de suas fontes traz uma sensação de insegurança quanto ao seu conteúdo, agravada pela proliferação de fake news, uma forma elegante de nos referirmos a mentiras que pessoas distribuem pelas razões mais variadas e desonestas. Agora, no segundo tempo, entra em campo a inteligência artificial, que potencializa de forma exponencial o lado bom e o mau da internet, ou melhor dizendo, da maneira pela qual produzimos, compartilhamos e usamos informações, conhecimentos e, de modo menos evidente, mas mais importante, valores.

A Inteligência (humana) Artificial

Apesar de parecer uma novidade completa para a grande maioria, nós convivemos com diferentes formas de inteligência artificial há algum tempo, mas elas eram bem “burrinhas”, limitadas em sua quase total maioria e não chamavam nossa atenção. As coisas mudaram drasticamente e, de uma hora para outra, o mercado vem sendo inundado com diferentes formas de IA. O ChatGPT é a que vem chamando mais atenção, porém há diversas ferramentas que executam diferentes tarefas de forma cada vez mais sofisticada e complexa. Todas prometem, e muitas estão cumprindo, revolucionar nossa vida.

Imagem gerada usando Freepik (Freepik.com)

Quem diria, pouco tempo atrás, que eu conseguiria gerar com IA, em poucos segundos, a imagem que estou usando ao lado? Sem querer, acabei dispensando um ilustrador que antes teria demorado um tempão para produzir uma figura parecida. Se antes tínhamos robôs que substituíram principalmente os braços de trabalhadores em linhas de montagem, hoje temos IAs substituindo o intelecto de pessoas, até das que as criaram, na medida em que IAs estão sendo usadas para produzir os códigos de programação que são a base de todos os softwares e apps que usamos.

Está havendo uma verdadeira corrida mundial para tirar vantagem da IA. É a “inteligência humana artificial” em ação, com muitos “criando” conteúdo sobre coisas que muitas vezes não conhecem profundamente, mas passam a ser “experts” com a IA.

Uma legião de pessoas tem convencido outras a tornarem-se escritoras dizendo que com a IA, o que importa é saber fazer as perguntas certas para ela, para ter as respostas que podem virar o texto de um livro! Realmente, não é conhecimento real, mas artificial, mais um fake da era moderna. Sem falar das chamadas deep fakes, que se utilizam de tecnologias de IA de imagem, concebidas para finalidades cinematográficas, que conseguem reproduzir fielmente todas as características de pessoas e que estão sendo usadas para o crime e pornografia. É muito triste e frustrante.

Mas, o que mais me assusta é o momento, que chegará muitíssimo em breve, em que teremos a “singularidade”, o aparecimento da primeira IA mais inteligente do que um humano. Será a primeira vez na história em que algo será mais inteligente do que nós, e as consequências disso são absolutamente inimagináveis. E, diferentemente de nós, esse algo continuará a evoluir sua inteligência de forma exponencial, em tese sem limites.

Inteligência Familiar

Tudo isso que falei até agora serve apenas para trazer contexto para nossa conversa sobre a influência da IA em nossas famílias. Tenho conversado com muita gente sobre isso e a sensação que tenho é que, como aconteceu com a internet, também estamos despreparados para conviver com a IA. Não é de surpreender, já que mudanças radicais com tantas possibilidades quanto essa que nos espera, trazem inúmeras possibilidades e situações, quase todas absolutamente imprevisíveis e talvez até emergentes, algo que se diz quando, devido ao aumento brusco de complexidade, uma total novidade aparece. O melhor exemplo é o nascimento de vida em um ambiente que antes era inanimado. Uma consciência artificial seria um outro exemplo…

Para nós que estamos preocupados com a sustentabilidade familiar, um processo evolutivo de longo prazo, nos interessa entender e adquirir capacidade e competência para direcionarmos e ajustarmos nossas famílias para que consigam prosperar e melhorar sua qualidade de vida de modo sustentável em um futuro certamente tão imprevisível e desafiador. Por onde começar?

Essa é a pergunta de 1 milhão de dólares, ou mesmo de 1 bilhão. Se olharmos bem, não é possível prever as mudanças tecnológicas, mas é possível, e imprescindível, estabelecermos parâmetros e normas na família para tirarmos proveito da imparável IA. Quase toda tecnologia pode ser usada para o bem ou para o mal, e com a IA não é diferente. As famílias inteligentes no uso da IA serão aquelas que souberem identificar as formas de gerenciar suas ferramentas para gerar coisas e situações de valor, para criar qualidade de vida sustentável. A IA não pode ser para as famílias algo que as leve a buscarem soluções fáceis, a se esconderem por trás daquilo que a IA diga ser certo sem questionar a ética e a finalidade do uso, a destruir ao invés de construir.

Pelo contrário, se bem aplicada, ela será um instrumento poderosíssimo para ajudar as famílias a fazerem mais com menos, a conseguirem mais qualidade gastando menos recursos.

A inteligência artificial pode ajudar e até acelerar o processo familiar de conseguir uma qualidade de vida elevada que seja sustentável. Mas ela também pode levar a família a se afastar de valores realmente fundamentais e a tornar-se dependente de produtos e de estilos de vida direcionados por quem controle a IA. As famílias sustentáveis serão aquelas que conseguirem usar a inteligência artificial como um instrumento para fazer o bem, para ajudar a construirem vidas que valham a pena sustentar. Cabe a cada uma desenvolver sua inteligência familiar para explorar a artificial da melhor maneira – não há outra opção.

O Autor

Marcelo Kós Silveira Campos

É um profissional com mais de 30 anos de experiência em temas ligados à sustentabilidade, dos quais mais de 20 trabalhando com a indústria química. Atuou no desenvolvimento de normas, sistemas e iniciativas para a gestão de saúde, segurança, meio ambiente, responsabilidade social e comunicação em empresas e organizações brasileiras e internacionais.

É engenheiro químico pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e mestrando em Desenvolvimento Sustentável na Universidade de Utrecht, na Holanda.

É o CEO da FASUS.

Uma resposta

  1. Texto sensível e reflexivo. Parabéns pela iniciativa, creio que a base de qualquer sustentação é a família. As primeiras sensações , as primeiras sensibilidades, os primeiros passos e estímulos são verdadeiros e profundos portanto não são artificiais. A preocupação é enorme mas o Amor ainda está acima de tudo! Um forte abraço Marcelo!

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